Quando Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quinta‑feira, 10 de outubro de 2025, que o IPCABrasil registrou alta de 0,48% em setembro, o número ficou abaixo da expectativa de 0,52% do mercado, mas ainda supera a variação de 0,26% observada no mesmo mês de 2023. O impacto imediato? A conta de energia elétrica puxou o índice para cima, gerando preocupação entre consumidores e formuladores de política monetária.
Contexto histórico da inflação no Brasil
Para entender o peso desse resultado, basta lembrar que, ao final de 2023, o IPCA acumulado foi de 4,62%, dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Desde então, o país tem navegado entre ciclos de alta de energia, variações de alimentos e os efeitos remanescentes do fim do bônus de Itaipu. Em 2024, a média dos núcleos de inflação — que exclui itens voláteis como alimentos e combustíveis — atingiu 0,22% em maio, indicando certa estabilidade, embora ainda distante da meta de 3,0% para 2025.
Desdobramentos do IPCA de setembro/2025
O grupo de habitação foi o principal responsável pela pressão, subindo 2,97% no mês. Dentro dele, a conta de energia elétrica registrou um salto de 27,30% em São Luís, capital do Maranhão, onde o aumento foi o mais acentuado do país. Por outro lado, o grupo Alimentação e Bebidas apresentou deflação de 0,26%, liderada por quedas de tomate (-11,52%), cebola (-10,16%) e alho (-8,70%).
- Variação geral do IPCA em setembro: +0,48%.
- Acumulado em 12 meses: 5,17%.
- Energia elétrica: +27,30% em São Luís.
- Alimentos com maior queda: tomate (-11,52%), cebola (-10,16%).
- Índice de difusão: 52% (queda de 5 pontos percentuais).
O núcleo da inflação desacelerou para 0,19%, o menor patamar desde março de 2024, segundo análise do economista André Valério, economista sênior do Banco Inter. Valério comentou que “apesar do resultado pressionar o índice cheio, o resultado qualitativo do IPCA foi amplamente positivo”. Ele ainda apontou que a média dos núcleos representa “um cenário mais favorável para a política monetária”.
Reações de economia e política
O Banco Central do Brasil ainda não se manifestou oficialmente, mas analistas esperam que o Comitê de Política Monetária (COPOM) use esses números como pista para a decisão de juros prevista para novembro. A diminuição dos núcleos, especialmente nos serviços, costuma ser vista como sinal de que a política de juros está começando a ter efeito. Entretanto, o salto da energia elétrica pode levar o BC a manter ou até endurecer a taxa, sobretudo porque o aumento reflete custos ainda não controlados.
Representantes do governo estadual do Maranhão, que incluem a Secretaria de Planejamento, afirmaram que o aumento de energia em São Luís está ligado ao fim do bônus de Itaipu, encerrado em agosto. Já em Salvador, capital da Bahia, a inflação ficou em 0,17%, a menor taxa do país, impulsionada pelas quedas nos preços de tomate e seguro de veículos.
Impactos setoriais e regionais
Nos serviços, a variação caiu de 0,39% em agosto para 0,13% em setembro, atingindo o menor nível desde junho de 2024. Essa desaceleração refletiu tanto a menor pressão sobre serviços intensivos em mão de obra quanto a estabilidade nos preços de transportes. Por outro lado, o setor de vestuário avançou 0,63%, e saúde e cuidados pessoais subiram 0,17%, indicando que alguns segmentos ainda sentem o efeito dos custos de insumos.
A energia elétrica não foi o único impulsionador dos preços monitorados pelo governo, que subiram 1,87% no mês, puxados também pela gasolina. Contudo, ao excluir o efeito da energia, a "inflação" do mês teria sido de apenas 0,08%, segundo o IBGE, o que evidencia o quanto o setor elétrico pode distorcer a percepção geral.
Perspectivas e próximos passos
Os olhos agora se voltam para o próximo IPCA, que será divulgado em novembro, e para a reunião do COPOM, agendada para a última semana do mesmo mês. Se a tendência de desaceleração dos núcleos continuar, pode haver espaço para uma redução da taxa Selic, que atualmente está em 13,75% ao ano. Contudo, a volatilidade da energia elétrica e possíveis choques externos – como o preço do petróleo – ainda pesam no carrinho.
Especialistas da Fundação Itatiaia alertam que “a estabilidade do núcleo de inflação será o ponto de referência para decisões futuras”. Eles recomendam atenção às próximas leituras de energia, que ainda podem sofrer ajustes de tarifas ou novos subsídios.
Antecedentes e trajetória da meta inflacionária
Desde 1999, o Brasil adota metas de inflação definidas pelo CMN, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em 2025, a meta oficial é de 3,0%, com faixa de 1,5% a 4,5%. O acumulado de 12 meses em setembro, 5,17%, ainda está acima desse teto, mas a tendência de queda dos núcleos oferece esperança de retorno à faixa alvo nos próximos trimestres.
Historicamente, períodos de alta energia – como a crise de 2001 e a escassez de água em 2015 – levaram a ajustes temporários nas metas ou a intervenções pontuais na tarifa. O fim do bônus de Itaipu parece ser mais um desses episódios, lembrando que políticas de curto prazo podem ter efeitos duradouros nos índices de preços.
Perguntas Frequentes
Como a alta da energia elétrica em São Luís afeta a inflação nacional?
A conta de energia elétrica de São Luís subiu 27,30% em setembro, o que puxou o IPCA para cima em todo o país. Excluindo esse item, a variação do índice teria sido apenas 0,08%, mostrando que o setor elétrico tem peso desproporcional na inflação do mês.
O que os economistas esperam da decisão do COPOM em novembro?
Com a desaceleração dos núcleos de inflação para 0,19% e a queda nos serviços, muitos analistas enxergam espaço para redução da taxa Selic. Contudo, o salto da energia elétrica pode fazer o Banco Central manter a taxa ou até elevá‑la se houver risco de nova alta nos custos de energia.
Quais setores registraram deflação em setembro?
Alimentação e Bebidas teve deflação de 0,26%, com destaque para tomate (‑11,52%), cebola (‑10,16%) e alho (‑8,70%). Também registraram queda Comunicação (‑0,17%) e Artigos de Residência (‑0,40%).
Qual é a meta de inflação para 2025 e como o IPCA atual se compara?
A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional é de 3,0% com tolerância de +/- 1,5 ponto percentual. O IPCA acumulado em 12 meses chegou a 5,17% em setembro, ainda fora da faixa, mas a tendência de queda dos núcleos abre caminho para retorno à meta nos próximos meses.
Por que o bônus de Itaipu foi relevante para a inflação?
O bônus de Itaipu reduzia a tarifa de energia elétrica até agosto de 2025. Seu fim fez a conta de luz subir abruptamente, sendo o principal motor da alta do IPCA em setembro, conforme apontam analistas da Fundação Itatiaia.
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